O projeto de construção de uma usina de dessalinização para abastecer a população de Fortaleza está gerando divisões entre o governo do Ceará e empresas do setor de internet. A proposta, que ainda não saiu do papel, tem como local previsto a Praia do Futuro, famosa por seu turismo.
A localização da usina é considerada estratégica, pois a Praia do Futuro abriga um hub – um ponto central de conexão de cabos submarinos que ligam o Brasil a outras regiões do mundo, como África, Europa e América do Norte e Central. Segundo o Ministério das Comunicações, cerca de 90% do tráfego de internet no país passa por esse ponto.
No entanto, as empresas do setor argumentam que a instalação da usina na região pode representar riscos para os cabos submarinos, podendo causar interrupções no serviço de internet em todo o país. Em caso de ruptura da infraestrutura, levaria cerca de 40 a 50 dias para restabelecer o serviço.
Luiz Henrique Barbosa, da Associação de Prestadores de Serviços de Telecomunicações, alerta para o impacto que uma falha na infraestrutura poderia causar na região dos hubs. Ele ressalta que não se trata apenas de uma subestação, mas sim diversas subestações na área.
Por outro lado, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará, responsável pelo projeto, afirma que o ponto de captação da água do mar foi deslocado para uma área a mais de 500 metros dos cabos submarinos. A empresa de saneamento assegura que não há riscos envolvidos.
Neuri Freitas, presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará, destaca que todos os sistemas, como cabos, gás, água, esgoto e rede elétrica, já funcionam harmoniosamente na região. Além disso, a tubulação da usina será instalada a uma profundidade superior a seis metros, o que minimiza possíveis interferências com as tubulações já existentes.
A construção e operação da usina serão realizadas por meio de uma parceria público-privada, envolvendo três empresas – duas do Ceará e uma da Espanha. O investimento total será de R$ 3,1 bilhões em um contrato de 30 anos, e a usina terá capacidade para tratar água para mais de 700 mil moradores de Fortaleza.
O governo do Ceará aguarda a licença da Superintendência Estadual de Meio Ambiente para dar início à obra. Enquanto isso, há um impasse sobre a necessidade de transferir a localização da usina. A Anatel recomenda que ela seja construída em outro local, garantindo a preservação dos cabos submarinos e evitando impactos na comunicação no Brasil. No entanto, o governo estadual argumenta que essa mudança encareceria o projeto e, consequentemente, a tarifa da água.
A decisão final sobre o destino do projeto ainda está pendente, e a expectativa é de que seja encontrada uma solução que concilie os interesses das empresas de internet e a necessidade de fornecer água potável para a população de Fortaleza.